Tempos açucarados - João Luiz Viana

Sr. Bernardino - Rei dos doces

por onda passou. Ao seu lado,

Aldo, filho do Dito Rita - Foto: 

acervo de Delsa Ferreira

Doce de abóbora, doce de jaracatiá, doce de batata doce, doce de laranja, doce de mamão, doce de goiaba, doce de amendoim, pastéis de queijo, Romeu e Julita, queijadinha, bolo e pudim.

Coisas do destino, um retirante nordestino por nome BERNARDINO no Bugrão veio morar. História triste de um menino deixado em um banco da antiga sorocabana sentado...

Imagino seu sofrimento, mas meu avô lhe deu um teto e acalento. Deu também um pedaço de terra, terra abençoada, lá tinha de tudo tinha arroz, tinha feijão, verduras, legumes, frango, porco, açafrão, outros temperos variados que nem sequer sei o nome. Tinha remédio para todas as doenças, de farmácia ninguém precisava, para curar gripe resfriado lá no BERNARDINO tinha remédio de punhado.

Em uma casinha de madeira rústica receitas eram criadas, inventadas, misturadas, parecia mágica, coisa inacreditável, do nada delícias surgiam o cheiro exalava.

Dinheiro para ele não importava, seu prazer era no rosto das pessoas ver a felicidade quando experimentavam seus quitutes. Guardava suas receitas a sete Chaves, nunca comi coisas tão saborosas. Era imbatível, único... Seu segredo para cozinhar não sei, mas acho que eram suas ervas, temperos e a mistura que suas mãos faziam.

Seus pratos eram disputados em festas e quermesses do Bugre. Gente de muito longe vinha só para experimentar tal sabor singular... quando o leiloeiro anunciava um leitão assado ou um pudim do BERNARDINO era uma disputa, todos queriam adquirir a prenda. Suas delícias eram disputadas como um troféu pelos frequentadores.

Nas caravanas de pescas e romarias BERNARDINO era disputado, agenda lotada, cozinheiro oficial.

Com o passar dos anos seu corpo foi cansando, sua mente começa a esquecer partes das receitas, suas mãos ágeis ficam mais lentas.

Anos isolados, amigos esquecidos, enfermidades ao seu redor, noites solitárias. Assim, a história se repete, aquele menino retirante que foi deixado na estação esquecido, agora velho também é esquecido pelos amigos...

Pela última vez BERNARDINO desceu desta vez de um ônibus e confuso seguiu outro CAMINHO, não o da sua casa, passos lentos e desnorteado no tronco de uma árvore depois de três dias foi encontrado, da mesma maneira ali sentado como no banco da velha Sorocabana onde foi abandonado...

Um dos últimos lugares onde morou Sr. Bernardino. Nesse local
era sua casa. Propriedade do Sr. Otacilio Viana - Foto: João Luiz Viana