Arvão tem historias - Por Marcos Antonio Corrêa

Arvão. Tantas historias. Tantas gerações. Hoje só na lembrança - Acervo 
pessoal de Marcos Antonio Corrêa
Uma árvore.
Todas, enraízam, vivem, respiram, sombreiam. Mas guardam histórias também.
Todos nós, moradores do Bairro Cabeceira dos Bugres temos histórias em comum nessa árvore majestosa. Transpassou épocas e pessoas. As marcas são inevitáveis.
Em seus galhos estavam marcadas essa historias. Paixões. Segredos. Suspiros adolescentes. Utopias juvenis.
Lá tinham guardadas também essas histórias. Era ela. Chamarei de M., pois esta viva e não terei tempo de contatar para pedir autorização para revelar sua identidade. Mas seu nome foi o que mais gravei em seus galhos. Era um prego, um pedaço de madeira mais forte. Era o suficiente. Historias lá eram escritas e lá permaneciam anônimas. Alimentadas por mais e mais paixões e sentimentos.
Dalila no correio. Naquele tempo eram as cartas que embalavam a comunicação. Ela morava longe, e a comunicação era por cartas. Escritas que demoravam as vezes mais de um mês para serem respondidas. Eram calhamaços. Chegavam  serem cinco, sei ou dez páginas no maior embalo da saudade.
Final dos anos 1970 e início dos anos 1980. Dalila já sabia o que buscava e seu sorriso avisava da resposta na caixa postal.
Não lia imediatamente. Precisava de um ritual. Era bicicleta o meio de transporte. Rapidamente pegava aquele envelope ladeado de verde e amarelo, o carimbo da cidade distante, a letra perfeita de quem vivia na atribulação de uma grande cidade.
O coração em disparada. Eram questões de minutos. Chegava no Arvão. O envelope partido com cuidado, para que nada se perdesse. A sombra dava o repouso para o cessar ofegante de uma respiração, misturada com a inquietação do que viria. E vinha. Vinham trocas de juras, promessas de carinhos, encontros futuros. Que sensação. Com os galhos, a sombra, as folhas, o largo tronco, eram compartilhadas as palavras, suspiros, desejos e muita imaginação.
Em seus galhos grafadas as datas de cada carta, as iniciais e ideias principais de cada correspondência chegada.
Tantas outras histórias ali vividas. Essa é apenas uma de tantas, de tantos que tiveram o privilégio de viver no Bugre.
O triste. Ela, o arvão, não existe mais como testemunha. É apenas uma lembrança que não podemos deixar esquecer para as muitas gerações que virão.
Escrevo para lembrar. Escrevo para resistir. Escrevo para perpetuar. Escrevo para cultivar.

Era assim. A espera da carta tornava a leitura magia sem igual

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