Vida na roça - Por Iracema Trigolo


Uma coisa que sempre chamou a atenção era o modo de vida da época, sem eletricidade e a influência da televisão a vida era frugal e cheia de significados perdidos com o tempo. Uma delas era a relação de trabalho onde não tinha empregados, mas quando precisava recorria aos camaradas, que eram vizinhos, parentes ou compadres. Quem tinha mais terras dava para tocar de ameia, uma espécie de sócio, que entrava com o serviço e ficava com parte do lucro que era dividido com o dono das terras. Normalmente o meeiro também tinha horta e criação de porco e galinha, que ajudava na alimentação da família.

Quando a lavoura era de café, no meio das linhas a terra era aproveitada entre uma safra e outra para plantar feijão, amendoim ou arroz. Algumas plantas nasciam naturalmente nas leiras formadas para a colheita, resultado da arruaçao, procedimento usado para limpar embaixo dos pés de café. Essas plantas eram usadas como hortaliças ou para alimentar os porcos e galinhas. Quando voltava da roça já trazia um maço de serralha para o jantar, muitos gostavam na salada, refogada e minha preferência era no feijão. Para os porcos tinha caruru, que também era consumido por alguns.

A alimentação era simples, mas rica em sua essência, havia verduras,legumes, ovos e carne de lata. Como todos criavam porcos, quando matava um "capado" bem gordo, daqueles com quase um palmo de gordura, era trabalho para o dia inteiro e entrava pela noite iluminado pela luz de lamparina. Era uma festa as crianças tinham uma função nesse dia, ficava de plantão para atender os pedidos dos pais. A primeira parte era dividir um pedaço de carne fresca para os vizinhos, quem tinha muitos filhos, cada um levava para um vizinho é logo estava livre para outras tarefas como: lavar as tripas no rio, para fazer chouriço e linguiça. Era uma trabalheira, picar toucinho, separar as carnes para cada uso; para preparar linguiça, lombo recheado.para fritar e guardar na lata, tinha também a parte que era salgada, isso porque não tinha geladeira para conservar as carnes. Desta forma a carne era conservada dentro da lata de gordura , já preparada era só aquecer a porção que precisava para consumir.
As linguiças eram postas para secar e ficavam penduradas sobre o fogão de lenha junto com o toucinho salgado.

As bolinhas de lombo recheado com carne de pernil também ficavam na lata, tinha às carnes com osso que eram consumidas primeiro.
A gordura ou banha era usado para tudo.


Iracema Trigolo

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