Tromba-d'água - Nazaré Camargo

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Não sei precisar o ano mas tudo ia bem no sítio. Cada morador com suas atividades: plantando e colhendo. Um ajudando o outro, "trocando" dia de serviço para que nada se perdesse na plantação e os lucros fossem satisfatórios. Vida difícil. As 7 da manhã meu pai estava na roça cuidando da plantação. Cada um cuidando do seu pedaço de chão, pois dali era tirado o sustento. Uns cuidavam do gado, outros do cafezal, do milharal e do arroz plantado na várzea (áreas próximas aos rios). Lindo ver a plantação crescendo e quando chovia até íamos andar no meio para ver a "alegria" das plantas.
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Momentos únicos de uma infância feliz. Entre o Bugre de baixo e o de cima, ainda hoje existe uma reserva de mata. Numa tarde "armou" um temporal com aquelas nuvens pretas. Muitos relâmpagos e trovões e vinham rápido em direção ao Bugre. Lembro-me da casinha de madeira que morávamos. Parecia tão frágil que ao menor vento ia voar pelos ares. No telhado havia várias pedras (imagino que para num possível temporal segurassem as telhas). Lembro nitidamente meu pai dizer: "O temporal é muito forte, bravo." Minha mãe cobrindo as camas para não molhar ( a casinha não tinha forro). O temporal chegou com muito vento derrubando coisas e aquela chuva que caía deitada. Foram minutos de pavor e medo. Para nossa surpresa durou uns 15 ou 20 minutos mas o que vimos a seguir jamais me esquecerei.
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Uma nuvem preta.  Um barulho forte. Um redemoinho se formou e despejou muita água no Riozinho aos pés da mata. Saímos no quintal ouvindo um "barulhão". A chuva ainda estava forte e  numa mistura de medo e fascinação vimos a água descendo e arrastando tudo o que havia pela frente. Fascinação pela força da natureza, medo por ser algo jamais visto. Daí as falas carregadas e de preocupação: Ah o arrozal lindo na várzea!!! Ah o monjolo da Carolina Vianna!!! Tudo foi arrastado a quilômetros de distância. Prejuízos? Muitos! Ficamos ilhados.  A ponte também caiu. Sentimentos de tristeza, trabalho  perdido, plantações destruídas.
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Na várzea tinham minas d´água, onde eram lavadas as roupas e de lá também tomávamos água: pura e limpa. Tudo perdido e destruído. A vida de um lavrador, de um sitiante é assim: difícil e dura. Mas para aqueles que tem fé tudo é possível! Logo os bugrinos se juntaram e reconstruíram o que foi possível. A várzea!? A natureza se encarregou.

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