Ser criança no Bugre - Delse Ferreira da Silva

O que era ser criança na Cabeceira Dos Bugres? Lembro-me que era sempre o café com leite nas brincadeiras de bola nas queimadas, ninguém jogava bola com força para me queimar. Não queriam me machucar. Ser pequena entre os maiores tinha suas vantagens.

Somos em quatro irmãos e nos relacionávamos muito bem com a família do seu Zé,  ele  tinha sete filhas e um filho. Tempo bom, brincávamos e brigávamos também e mesmo em nossa inocência praticávamos o Bullying. As vezes no calor das brincadeiras nos exaltávamos e surgiam as ofensas e me chamavam de botijão de gás. Só porque era gordinha e isso me deixava com muita raiva, ódio e aí eu revidava falando cabelo duro, cabelo de bombril e teve até mordidas no dedo e puxão de cabelos. Parece até engraçado, não tem como não rir lembrando o fato e hoje não me lembro quem começava as brigas. Porém éramos amigas, como era bom estar juntas.  

A farra era garantida, os banhos no rio e andar a cavalo ou de charrete. Em uma ocasião, nossas mães foram para cidade. Reunião de escola e lá ficamos aos cuidados do seu Zé. Que farra fazíamos e ele para manter a ordem e o silêncio, apagou as luzes e acendeu isqueiro no escuro as escondidas para nos assustar. Simulava que era assombração e seu Zé ficava embaixo de um lençol branco e uma luz refletia no escuro. Lembro que até chorei de medo, chorei embaixo das cobertas. Será que alguém mais chorou? Não lembro! Será que alguém tem trauma do escuro?


Muita lembrança da infância já se apagaram da minha memória no decorrer dos anos. Algo que não esqueço: acordar na Cabeceira dos Bugres para ir à escola nos anos de 1977 a 1983.  Acordava ouvindo no rádio o Zé Béttio, Criador dos Bordões, falando: -Vamos levantar! -, -gordo! oh, gordo! -  e -joga água nele! Recordo também: adorava a época da colheita de jabuticaba. O meu padrinho e madrinha enchiam o balde e levavam na minha casa e as vezes íamos lá chupar jabuticaba embaixo do pé. Era lindo ver tantas jabuticabas, tocava nelas e já caíam e ao saborear, eram espetaculares e saborosas, docinhas.


Tinha também um poço d'água, que maravilha! Fresquinha! Quem disse que água não tem gosto? Água do poço na Cabeceira dos Bugres era transparente, fresquinha e saborosa. Hoje só sobrou a saudade de um gosto d'água passado que não volta mais!

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