Ser criança no Bugre - Delse Ferreira da Silva
O que era ser criança na
Cabeceira Dos Bugres? Lembro-me que era sempre o café com leite nas
brincadeiras de bola nas queimadas, ninguém jogava bola com força para me
queimar. Não queriam me machucar. Ser pequena entre os maiores tinha suas
vantagens.
Somos em quatro irmãos e nos relacionávamos
muito bem com a família do seu Zé, ele tinha sete filhas e um filho. Tempo bom, brincávamos
e brigávamos também e mesmo em nossa inocência praticávamos o Bullying. As vezes
no calor das brincadeiras nos exaltávamos e surgiam as ofensas e me chamavam de
botijão de gás. Só porque era gordinha e isso me deixava com muita raiva, ódio
e aí eu revidava falando cabelo duro, cabelo de bombril e teve até mordidas no
dedo e puxão de cabelos. Parece até engraçado, não tem como não rir lembrando o
fato e hoje não me lembro quem começava as brigas. Porém éramos amigas, como
era bom estar juntas.
A farra era garantida, os banhos
no rio e andar a cavalo ou de charrete. Em uma ocasião, nossas mães foram para
cidade. Reunião de escola e lá ficamos aos cuidados do seu Zé. Que farra
fazíamos e ele para manter a ordem e o silêncio, apagou as luzes e acendeu
isqueiro no escuro as escondidas para nos assustar. Simulava que era
assombração e seu Zé ficava embaixo de um lençol branco e uma luz refletia no
escuro. Lembro que até chorei de medo, chorei embaixo das cobertas. Será que
alguém mais chorou? Não lembro! Será que alguém tem trauma do escuro?
Tinha também um poço d'água, que
maravilha! Fresquinha! Quem disse que água não tem gosto? Água do poço na
Cabeceira dos Bugres era transparente, fresquinha e saborosa. Hoje só sobrou a
saudade de um gosto d'água passado que não volta mais!
Doces lembranças!
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