BUGRE - COMO FOI COMO É, E COMO SERÁ SEMPRE BOM TER HISTÓRIAS PRA CONTAR - Darci Ferreira

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Ah!, Como era bom a cada amanhecer abrir as janelas dos quartos, a porta da sala, a porta da cozinha e ver que o dia estava lindo e ensolarado ou tudo branco cheio de geada, às vezes a grama molhada do sereno da noite, ou as plantas iluminadas e coloridas com as cores da primavera para todos os lados que se olhava, ver ali há alguns metros no entorno de casa, os cavalos e as vacas que estavam pastando livremente, ver as estradas e a poeira que subia quando um carro passava, ouvir o cantar dos pássaros que voavam de um lado para outro nos galhos das arvores, ver e ouvir os galinheiros com as galinhas a cacarejar, os Piu-Piu dos pintinhos, o cantar dos galos, anunciando que o dia já raiou, ouvir o latir dos cachorros de casa e de toda a colônia, ver as bananeiras curvadas tombando com seus enormes cachos de bananas, que a cada dia aparecia uma banana madura e eu ia e a retirava do cacho antes que qualquer um de meus irmãos fossem primeiro para retirar.

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Ah!, Como era bom mesmo reclamando, esbravejando ir buscar o cavalo branco (PILINTO), no pasto para dar agua e comida e sem arreios, cordas ou qualquer equipamento de segurança conseguia subir no cavalo e ele me levava até onde estava o balde com a agua e as espiga de milho que era a sua comida. Tinha também a mula, mas nesta não se podia montar não, pois era muito brava e derrubava a gente.

Ah!, Como era bom subir no pé de ARTICUM carregado de frutas madura, assim era o nome da fruta no BUGRE e ficar escolhendo as mais bonitas, mais madurinhas e maiores para comer tiradas direto do pé, nas grandes cidades e outras regiões do Brasil essa fruta se chama PINHA.

Ah!, Como era bom tomar aquele suco de limão ROSA que chamamos de limonada, a boca chega a salivar e o nariz sentir o aroma do limão acabado de tirar do pé para fazer o suco feito na hora de beber, por que não tinha geladeira pra guardar a limonada  pronta pra qualquer hora que quisesse beber.

Ah!, Como era bom ir cedinho buscar leite na casa da CANDINHA, às vezes na DITA ou na MARIA de medo que o leite ia acabar comprar aquele queijo acabado de ficar pronto depois de vários dias sendo feito manual e artesanalmente.

Ah!, Como era bom ir com as crianças da colônia brincar de esconde-esconde, brincar de bolinha de gude, brincar de queimadas, brincar de passar anel, brincar de amarelinha riscando o chão que era pura terra vermelha para dividir os quadradinhos onde podia pisar, brincar de bugaia com aquelas 5 pedrinhas espalhadas no chão que as vezes causava briga e confusão e ouvir a ameaça da minha mãe que a noite o saci vinha jogar na sala por que aquilo não era jogo pra criança não.

Ah!, Como era bom ir ao campo no domingo assistir o jogo de futebol da CABECEIRA DOS BUGRES contra os times de todos os sítios vizinhos que vinham jogar em nosso bairro. Tomar aquele sorvete de palito trazido do bar do BENTO de RIBEIRÃO.

Ah!, Como era bom ir assistir televisão na casa da dona DIDÉ, por que na minha casa televisão não tinha não. Todos os dias quando chegava da escola corria para fazer as tarefas de escolas e serviços de casa para nos fins da tarde ir junto com minhas irmãs assistir o SITIO DO PICAPAU AMARELO, depois a novela das 6h00, das 7h00 e depois o JORNAL NACIONAL e ultima novelas a das 8h00 na semana e no domingo assistia OS TRAPALHÕES, A ZEBRINHA DA COLUNA 1,  COLUNA 2  COLUNA DO MEIO e depois voltava para casa morrendo de medo do escuro e da luz dos vagalumes que de longe parecia um fantasma vindo de encontro a gente e assim era a rotina de viver no BUGRE.

Ah!, Como era bom ir pra escola NICOLA MARTINS ROMEIRA, em meio a tantas dificuldades sofrendo o medo da estrada o cansaço do caminhar as dores nos pés de tanto andar e sentir que nunca ia chegar. A caminhada a cada passo me enchia de sonhos e desejos que um dia isso mudaria e a vida ia melhorar.

Ah!, Como era bom e gostoso contar os dias para esperar o NATAL e o ANO NOVO chegar e ir ao salão da igreja e ganhar aqueles brinquedinhos que era dado nem sei por quem, mas voltava para casa feliz sentindo-se realizada com o que tinha ganhado, às vezes uma boneca de plástico ou uma bola colorida, outra uma peneirinha com um peixinho e uma estrela do mar de plástico rosa, de brincar na praia, no mar e nem sabia pra que servia. Sair para pedir ano bom na ingenuidade que iria ganhar tudo que sonhava.

Capa LP - Milionário e José Rico
AH!, Como era bom ouvir no radio a música no fim da tarde, “NESTA LONGA ESTRADA DA VIDA, VOU CORRENDO E NÃO POSSO PARAR, NA ESPERANÇA DE SER CAMPEÃO ALÇANDO O PRIMEIRO LUGAR.......”  de (Milionário e José Rico).

Ah! Como é bom ver que o tempo passou e nos fez campões daquelas dificuldades e esperança nos deu a inteligência, capacidade e sabedoria para resgatar nossas origens, nossas historias, nossas heranças e lembranças e fazer essas lembranças rolar em gotas de emoção pelo rosto e mostrar para o mundo que existiu, existe e sempre existira em um pedacinho do Brasil um lugar chamado CABECEIRA DOS BUGRES, terra que foi descoberta e desbravada pelos índios primeiros habitantes desse país e que mais tarde a partir de 1900 e tra-lá-lá não sei ao certo a data que foi habitada pelos primeiros imigrantes oriundos de diversas regiões do país ai chegaram e fez a união de um povo e de toda na uma geração sobreviventes da era da ditatura militar, onde tudo era proibido.

Ah!!!, Como é bom reviver essas lembranças de infância, ascendem em meus olhos às imagens das pessoas, amigos/amigas que moravam ou ainda moram na CABECEIRA DOS BUGRES eu ainda criança não tinha noção e maturidade pra saber a importância deste lugar para as minhas conquistas e vitórias nos dias atuais.

Ah!, Como era bom e como foram tempos felizes, como tinha tudo mesmo não tendo nada, só o necessário pra sobreviver.


Ah!!! Como é bom hoje saber que a estrada que parecia tão longa e tudo muito difícil de caminhar foram na verdade, apenas um degrau para construir a escada para o futuro e podermos reconstruir e reescrever nossa história nessa caminhada.

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