Escola Estadual de 1° e 2° Grau "Cel" Pedro Silvio - Ribeirão do Sul - Darci Ferreira

EE Nicola Martins Romeira - Foto - Autor desconhecido

Criação ou Reconhecimento Resolução SE nº 15 de 22 de 01de 1976, publicada em 23/01/1976



A primeira escola que lapidou as primeiras letras em minha vida e deu origem a liberdade e caminhos para uma nova visão de mundo e os fundamentais ensinamentos para aprimorar e consolidar minha força e capacidade para superar os obstáculos que o futuro iria me impor.

Sempre ouvi dizer que nosso melhor aprendizado nos é dado pelo tempo e as experiências que acumulamos em nossa trajetória de vida.

Concordo plenamente com essa teoria, porém não posso deixar de registrar aqui que muito desse aprendizado e experiências não teriam acontecido se não tivesse aprendido o BEABA, naquela simples cartilha intitulada CAMINHO SUAVE que foi muito difícil adquirir pela dificuldade financeira de meus pais por serem trabalhadores rurais e ser uma criança humilde de família simples e modesta.

Ainda lembro muito bem do meu tempo de criança, do esforço dos meus pais para que pudesse aprender todas as lições, passar de ano e não ficar para trás das outras crianças da minha idade, quando em nada eles podiam ajudar-me, pois em uma escola nunca tinham estudado.

Ir para ESCOLA ESTADUAL DE 1º E 2º GRAU CEL. PEDRO SILVIO, EM RIBEIRÃO DO SUL, acredito que foi o melhor presente e o maior prêmio dado por meus pais a mim, meu irmão Dirceu e minhas irmãs Adalgisa e Delse. Diante de toda dificuldade e distância que vivíamos da cidade na década de 70 e 80 em uma pequena fazenda no interior de São Paulo.


Não sei dizer como esta essa escola hoje, mas posso relatar como era e qual a importância deste lugar para minha vida.

Muitas vezes vislumbro com emoção e nostalgia ao recordar cada espaço e cada canto deste lugar em um terreno de esquina que ocupava mais ou menos metade da quadra de uma rua localizando-se atrás da igreja matriz da cidade de RIBEIRÃO DO SUL.

A partir do portão de entrada dos alunos, existia o pátio, o espaço do refeitório com umas quatro mesas de concreto pintadas de vermelho, a cozinha de preparar a merenda, a cantina de onde em todos os dias no horário do recreio exalava aquele cheiro maravilhoso dos salgados que se vendia lá, mas o melhor de todos era a coxinha de frango que era fritada na hora para os alunos que podiam comprar.

Nesse mesmo pátio havia um pequeno palco, que separava o banheiro masculino do feminino e onde brincávamos, ensaiávamos o HINO NACIONAL para o desfile de 7 de setembro, dia da arvore, dia da criança, ou quaisquer atividades cívicas e festivas que aconteciam na escola.

Cartilha Caminho Suave - Muito usada para
alfabetizar na década de 1970
Dentro desse quadrilátero do aprender e em cada página da cartilha CAMINHO SUAVE precisava descobrir novas letras, novas palavras e explorar o que era permitido por LEI numa época em que a DITADURA, sufocava, aniquilava, amordaçava, engessava, decolava e obrigava grandes pensadores e revolucionários a se exilarem para não morrer, não expor suas ideias, seus pensamentos e seus ensinamentos para mudar o mundo e contribuir com o aprender a apreender, a ter um futuro melhor e diferente. Todos os dias ia tentando aprender as novas lições e superar os limites da realidade daquele momento.

Viajo na imagem das lembranças de um espaço amplo fechado por muros de tijolos de barro que separava a casa da minha amiga de classe CIDINHA VIANA do prédio da escola. Prédio esse que foi construído em dois blocos arquitetônico separados por alguns metros de distância um do outro. Em cada bloco a CAMINHO SUAVE foi abrindo páginas em minha vida e registrando em minha memória, cada passo, cada acontecimento, cada letra, cada aprendizado que me levariam para o futuro.

No primeiro prédio que estudei do 1º ao 3º ano tinha algumas escadas me levavam para sala de aula onde não tenho muita certeza, mas acho que a professora se chamava Teresinha e de seus ensinamentos aprendi gostar de estudar, ler e ver as figuras nos livros, frequentar a biblioteca folear os livros e de repente já conseguia reproduzir as frases de algumas histórias infantis trocando letras, comenda palavras e se perdendo no enredo,  pois conhecia poucas palavras.

Momentos bons que passei dentro da biblioteca deste prédio que me fizeram guardar para sempre dois clássicos livros de histórias infantis; OS TRES PORQUINHOS e o IPÊ AMARELO. Tiveram muitos outros, mas estes dois são inesquecíveis. Também nesse espaço era a sala de datilografia e ai aprendi teclar na máquina fazendo o primeiro curso, isso lá pelos anos de 1981.

Também a ESCOLA ESTADUAL DE 1º E 2º GRAU CEL. PEDRO SILVIO me transportava para lugares jamais imagináveis que existiam de verdade, quando na hora do recreio brincava embaixo das arvores ao lado do prédio que na parede tinha o mapa do mundo todo feito de azulejos em mosaicos colorido, porém só não existia a nossa cidade naquele mapa.

Mapa do Brasil - Antigo Predio  Escolar da
 "Cel Pedro Silvio - Hoje Nicola Martins 
Romeira - Ainda preservado
Isso não era importante naquele momento por que eu estava dentro daquele espaço que me levava para qualquer lugar do mundo até mesmo pra AMAZONIA que olhando ali para aquela parede parecia ser tão perto, ainda que nem soubesse que lugar era esse.

Mas voltando ao prédio acho que passei por todas as salas de aulas com louvor, ainda que faltassem às vezes livros, lápis, cadernos, canetas em abundância, conseguia ter o básico e necessário que meu pai podia dar com o sacrifício e suor de seu trabalho na lavoura.

Nem todas as salas eram de ensinar o CAMINHO SUAVE e aprender para a vida futura. Tinha ainda a sala do dentista, lugar de pavor cada vez que passava em frente ou ao andar pelo corredor ouvia-se aquele barulhinho aterrorizante do motorzinho do boticão (o arrancador de dentes) junto com o choro de alguma criança.

Passei pela descoberta do alfabeto, das letras, das quatro operações básicas da matemática e cheguei ao ginásio, então mudei para o outro prédio no outro bloco.

Ai tudo ficou mais difícil, muitos professores, muitos livros, muito mais material que antes, e um pai e uma mãe lutando de sol a sol por que agora também eram quatro filhos na escola e todos precisavam dos materiais que os professores pediam.

Neste outro prédio passei a aprender que em tudo tinha que ser mais esforçada e que estava deixando de ser criança e estava dando um passo para as responsabilidades de gente adulta. Iniciava o ginásio e junto com essa mudança aconteceu a fatalidade de perder meu pai, minha mãe ficou sozinha para dar continuidade a educação dos filhos que os dois faziam juntos.

Como em todas as etapas essas também foram difíceis, e não foi diferente até terminar o ginásio. A cada ano uma dureza para juntar os trocados necessários para dar à professora, onde ia as livrarias em SÃO PAULO comprar os livros de todas as matérias que iria precisar no decorrer do ano.

Quando recebia o livro novo, mal podia usar como devia porque tinha que cuidar bem deles e conservar para deixar para minha irmã que ia usar no ano seguinte. E assim foram os anos do período do ginásio com sacrifícios, mas com alegrias de estar na escola, estar descobrindo um mundo diferente no mundo dos livros.

Relembro aqui que em um dado momento já na 8ª série do ginásio o dinheiro não era suficiente e o livro de HISTÓRIA minha mãe comprou usado para mim. Foi de você MARA CANDIDA VIANA, aquele  com a capa do FARAÓ DO EGITO, o de GEOGRAFIA da IRACEMA TRIGOLO e mais um que não lembro com certeza qual era. Acho que de INGLÊS da CIDA OU DA SUELI e assim terminei a fase do ginásio da ESCOLA ESTADUAL DE 1º E 2º GRAU CEL. PEDRO SILVIO.

Corredor Interno da EE Nicola M Romeira
Acervo da Escola.
A cada lembrança de cada espaço físico relembro também os nomes de alguns professores e matérias que ensinavam e até a fisionomia de alguns deles. Desejo que todos estejam entre nós com muita saúde, desfrutando de suas merecidas aposentadorias pelos anos de dedicação e trabalho que muito contribuíram para que eu tivesse a formação e os diplomas que tenho hoje.

Sei que não vou me lembrar de todos meus queridos mestres da ESCOLA ESTADUAL DE 1º E 2º GRAU CEL. PEDRO SILVIO, mas vou citar alguns e em cada nome homenageio a todos com um FELIZ DIA DOS PROFESSORES PELO SEU DIA, celebrado recentemente em 15/10/2017. São eles; dona MARLENE, dona OLINDA, dona TERESINHA, JOÃO BATISTA de português, DIRCINHA de matemática, CONCEICÃO de ciências, AUREA de história, DIMAS de geografia, LURDINHA de inglês, YDERINA de desenho, PEDRO de educação moral e cívica, MARLENE de educação física, não sei quem eu perdi na memória, mas estes me ajudaram a ser o que sou hoje, mesmo enfrentando as barreiras da ditadura militar e toda a repressão de um período em que não se podia atuar como desejava muito me ensinaram.

Terminado o período do ginásio, os livros e tudo que tinha aprendido  teve que ir pra dentro de uma gaveta, onde ficou guardado por muitos anos pela necessidade de ter que trabalhar.

Para finalizar registro aqui a geografia deste prédio do ginásio em que tinha acho que 6 ou 7 salas de aulas 3 de um lado do corredor e acho que 4 do outro lado e ainda a DIRETORIA, A SECRETARIA e os banquinhos de madeira da diretoria para onde éramos mandados se fizéssemos coisas erradas, se chegássemos atrasados para entrada da aula ou se fugíssemos pelas telas de arame para ficar no banco da praça.

Próximo à entrada de alunos desse prédio tinha também em pé de limão CIDRA. Ficava muito lindo quando estava carregado de limões. E ainda na parte de traz onde era a cozinha tinha a quadra de fazer física, jogar vôlei, basquete e ensaiar para o desfile de 7 de setembro.


   Hoje a ESCOLA ESTADUAL DE 1º E 2º GRAU CEL. PEDRO SILVIO, através da LEI Nº 5646, de 27 de abril de 1987 mudou o nome para ESCOLA ESTADUAL NICOLAS MARTINS ROMEIRA, mas para mim será sempre a primeira escola que aprendi o BEABA e me levou a viajar através de seu mapa na parede e a das páginas da CARTILHA CAMINIHO SUAVE para diversos lugares do mundo. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A grande família Biazotti - Por Maria Lucia Biazotti

Meu cafezal em flor, quanta flor meu cafezal - Por João Luiz Viana

Tempos açucarados - João Luiz Viana