Só é livre quem guarda suas memórias - Por Marcos Antonio Corrêa

O Bugre necessitaria de um estudo sociológico. Produziu pessoas sem igual, de grande valor, conhecimento e esparramou um pouco de seu jeito Brasil afora. São muitos os bugrinos que partiram levando consigo a vivência que aqui tiveram. Para alguns foi tão forte que nem conseguiram sair, outros, como eu, saiu e voltou. Os que não voltaram, lógico, foram levados pelas circunstancias da vida que os impediram de pensar na possibilidade de voltar, mas, o que aqui vivemos, certamente desperta em todos essas doces recordações.
Nossa geração vivenciou um Brasil que saia do marasmo e atraso de uma Ditadura Militar e utopicamente sonhou com a possibilidade de mudança possibilitada com o advento da Nova República.
Num lugarzinho distante dos grandes centros, fazíamos muito. Uma pessoa que me ajudava a conectar com o mundo era o Dinho. Todo sábado esperava chegar para ir até sua casa e ler a revista Veja. A Veja no estertor da ditadura não era o lixo que é hoje. Como toda sociedade brasileira, anunciava possibilidades de superação dos desmandos dos mais de 20 anos ditatoriais. Os contatos que tinha com o Joel Beffa, as leituras que fiz indicadas por ele, foram importantes para minha formação.
Outra situação que nos impulsionava numa certa vanguarda, era a Teologia da Libertação. Uma leitura da Bíblia calcada na realidade do povo, onde anunciava e denunciava um mundo novo. Senhor Augusto Beffa e Argemiro Candido tiveram importância fundamental nisso. Ajudaram não só o Bugre, mas toda Ribeirão do Sul não ser uma cidadezinha provinciana, mas conectada com as mudanças que o Brasil passava naquele momento.
Com toda essa esperança anunciada, tinhamos força para sermos muito mais. Fazíamos teatro, círculos bíblicos, festas, nos reuníamos e nos uníamos. Eram tempos de esperança, sem tanta tecnologia, mas muito calor humano, muita crença no humano.
Isso nos formou, nos criou consciência e nos possibilitou estarmos juntos nesse grupo e lembrando de tudo. Se o que vivemos não fosse significativo, não estaríamos aqui.
Estar aqui é muito bom. Pensar sobre tudo isso, melhor ainda.

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